Cuecas Freadas é um livro sobre a transfiguração do encardido, sobre o devir de um corpo que é dervixe e prostituto do caos numa só cajadada; um livro sobre sujidades e souvenirs, sobre presenças e sumiços daquele que se permite emancipar-se através da palavra, ao passo que nela se camufla, se descentraliza e se decompõe ao submeter-se à radiação do verbo – nele se polui e se sublima. Aqui o poeta aceita passar pela prensa hidráulica da metáfora, e nela empurra seus sonhos e insônias, sua mãe e seus garotos de estimação, Deus e suas antíteses a fim de obter o elemento restante, a matéria última do corpo redundante que se esbate limítrofe num mundo que o espreme para fora mas que não cessa de dar-lhe as boas-vindas, exatamente assim, na contra-dicção dos signos, na beatitude da entropia, no seu excelso excesso de exceção, no sabor de sua desarticulábia. Eis o convite perverso do poeta ao leitor – que ele o acompanhe de perto, como um sol oportuno, na lavagem de suas cuecas freadas.