O Deserto sozinha tem vocação para diário de bordo de quem empreende grandes cruzadas, explorando sobretudo as paisagens internas.
É possível acompanhar a personagem-narradora nascer, manobrar o tempo, percorrer territórios — sempre em busca de perguntas —, tendo a insatisfação como bússola.
O maior elogio à qualidade literária de Jeovanna Vieira é observar como a autora transforma qualquer leitor em passageiro de suas próprias agonias.
Ao aderirmos essa incursão, sentimos alterar a temperatura, umidade e pressão à medida que os desertos se revelam.
A obra, de intensa dramaturgia, amplia os conceitos de solitude e questiona as companhias: o zoom out coloca o leitor, a personagem-narradora, os cenários, os seus coadjuvantes e a autora em perspectiva com o mesmo protagonismo dos fungos.
A geografia do texto expõe rupturas, valas, cânions, abismos e lapsos, ao mesmo tempo que aproxima o sentido da tundra, da savana, da estepe, das dunas, ou transforma em cena uma ida corriqueira ao supermercado do bairro.
E o chão, esse que pisamos agora? Não será todo o mesmo deserto? Não seremos todos um mesmo organismo? E não estaríamos todos irremediavelmente acompanhados e indubitavelmente sozinhos? A paisagem sonora sibila as percepções da autora nos 39 poemas.
Jeovanna Vieira espreita o vacilo do interlocutor para lhe morder no detalhe íntimo: seja na umidade da infância, na aridez de crescer, na transformação de uma filha em mãe, no assassinato de um deus mítico ou no ato contínuo de escavar.
Sobre a autora:
Jeovanna Vieira, nascida no Espírito Santo em 1985, é mãe do Joaquim e do Bento. Deserto sozinha é seu primeiro livro de poemas. Em 2024, lançará o romance Virgínia Mordida, pela Companhia das Letras.
Ficha técnica:
Formato: 14x21cm
Peso: 0.160kg
Acabamento: Livro brochura
Selo: Pedregulho