Em Pretendo fechar os olhos assim que puder sobressai o protagonismo de personagens femininas, das quais muitas enxergam seu mundo com seus próprios olhos, rompendo, assim, com o referido status quo. As recriações da vida cotidiana por meio de elementos narrativos realistas ou fantásticos, banais ou insólitos, insuspeitos ou oníricos, consolidam a ideia de que a reelaboração da vida real pela Literatura parte da invenção e reinvenção das narrativas, da “arte de inventar um modo de representar algo”. Ainda que os contos não tenham compromisso com a verossimilhança e seu entendimento alcancem níveis de abstração, os olhares atentos lerão neles demonstrações vivas, e flashes do nosso tempo, pois a contista Marília Carreiro possui, também, aguçado olhar de cronista, especialmente da vida urbana. E esse aspecto cronista não se atém apenas ao banal e ao incisivo; somam-se a essa perspectiva a intensidade e a tensão.
[Renan Peres]