Luiz empresta, através da linguagem e das inúmeras simbologias construídas por meio dela, as suas metades de coisas algumas, abre uma fissura no tempo, convida aos gritos as memórias que fingimos não ter e produz enfrentamentos que aprendemos a evitar. Ao longo da leitura nos deparamos com datas, com feridas ainda abertas (algumas até sangrando), passeamos entre o acontecer do tempo purgando as emoções que partilhamos com o texto e as que o texto nos empresta
na leitura.
A Metade de Coisa Alguma nos ensina, mesmo sem ter obrigação alguma de ensinar, que o conhecimento é frágil, e a prática fundamenta a vida. Entre as leituras, em 27 de dezembro, a ausência de nome marca o desconhecimento, revela fotografias empoeiradas na memória, trai o cotidiano, trai o lugar de ausência que delegamos ao que não é nada. A metade de coisa alguma cospe na cara do leitor os sentimentos que insistimos em não sentir, em não nomear, que ignoramos, que nos fazem fechar os olhos. A metade de coisa alguma dói, afaga e resiste.
A arte é mudança. A vida que tem sido milimetricamente regulada existe na dor, nos olhares doloridos, nos olhares tristes que alçamos ao pôr do sol, nas metades que não conhecemos ao certo. As metades de coisa alguma são parte da existência que negamos, que buscamos branquear e não escurecer. Luiz Henrique nos presenteia com o seu ser partido, em um ato que encoraja a reflexão, o autoconhecimento e legitima as chagas abertas e partilhadas.
A você, meu ser partido – Disse o autor.