Livro em pré-venda. Envios a partir da primeira quinzena de setembro de 2024.
Quanto tempo levei para dizer com gosto “sapata”, “fancha”, “cola-velcro”, “sáfica”, entendida, sapatona? Quantos anos levei para sair da clandestinidade e dar passagem para a minha sapatonice? A escrita poética que aqui se roga, parte dessa decomposição política do encontros, precisaram ser reescritos e revisitados várias vezes, passaram a ser o meu trans-torno poético, porque todas as vezes que ia lê-los, tinha a sensação de que não estaria bom o suficiente para ser chamado de poema, ou mesmo serem publicados. A prática de reescrevê-los fez com que eu chegasse à seguinte conclusão: que um poema nunca estará bom o suficiente para ser publicado, por isso, a experiência de escrevê-los é uma experiência de trans-torno poético. Penso que falar a partir de um lugar do erotismo sapatônico, ainda nos põe num lugar de apagamento, frente ao regime heterossexual. Afinal, uma sapatona quando dispara a partilhar sobre o seu prazer erótico, é vista como símbolo de aberração numa sociedade falocrata. Dessa maneira, a escrita das mãos de uma não mulher aos modos de Monique Wittig, sapatona, parda com passibilidade branca, buscar sustentar conversas a partir do XExerecando como modo de dar lugar a memória, a partir das narrativas dos encontros. Assim, a obra, parte de uma escrita a partir do experiência de habitar o cotidiano da cidade, das políticas de rua, dos bares situados em bairros, e de motéis fuleiros mineiros. Encontra-se aqui, a afirmação da vida, a insistência da vontade de afirmar a alegria frente aos acontecimentos que deixam marcas e produzem brechas para politizar a cama.
Sobre a autora:
Jessica Felizardo é tia da Iara e Pierre. Filha de Roseni e Silveiro, neta de Libia Vilas Boas e Nilcia Felizardo. Psicóloga, atuante da klínica pirata. Artista plástica, sapatona, sapapoeta.