Poemas que são frutas quentes, ora açúcar, ora amargor. É assim que o amor, o medo, as coisas de todos os dias, os encontros, o esmaltado da vida, no seu brilho e na sua melancolia estão nesses poemas, ebulindo sentimentos que nem sempre têm nome. Alguma coisa é sempre quente no que resta depois das palavras: o poema, que evapora depois de escrito, e que fica no ar, depois de lido.
Capa comum
Edição: 1ª (2022)
Formato: 13x19cm
Páginas: 60
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Conheci o absurdo
Vivi com ele
Fizemos muitas coisas juntos.
Sua cara de lusco fusco
Olhos de criança correndo com o caco de vidro na mão.
Encontrei um sorvete de creme (sem plumas)
Na cabeça do cachorro
Que tocava balalaica no meio da varanda.
O absurdo é alto e baixo, fundo muito fundo
Branco e também poroso e estelar.
Irônico, sabe cozinhar, separar o feijão
(coloca as mágoas de um lado, os amores do mesmo lado)
Brinca com tudo o que é afiado, cortou meus dedos.
Engulo a seco seus punhais
Goela abaixo mas com muito carinho.
--x--
O sol se deitava sobre o meu corpo
Naquela praia.
Eu falando andorinhas
Me afundava naquele outro corpo
Ancorada num cardume
Tateando o mar com os olhos.
O verso nasceu sem planejamento, feito concha
O amor em gotas de sal na pele
A implorar à alma que não me abandone.
Sabia em alguma camada de mar
Que ali acontecia uma coisa parecida com viver.
Mas pensava baixo, para não ter certeza
A certeza, me parece, é o contrário de estar vivo.